quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Sonhos, projetos e Garcia Marquez


Hei, eu queria te contar que voltei a ler Cem Anos de Solidão. Eu sei agora você vai sentir orgulho de mim.

Lembro quando saímos e te contei que não havia terminado de ler o livro porque achei confuso os diversos personagens com nomes parecidos e te confessei que havia abandonado o livro logo após aquela parte em o Buendia pai é amarrado embaixo do cajueiro e a família o deixa lá.....e você riu e achou um absurdo eu ter largado o livro justo nessa parte.

E me confessou que também confundiu os personagens, mas que leu até o fim.
Li ano passado ou retrasado Sobre o Amor e Outros Demônios, você já leu esse? Pensei tanto em você quando li esse livro... Pensei o quanto seria bom discutir com você como o Garcia Marquez consegue criar personagens tão fantásticos.

Mas você não está comigo, como esteve aquele dia no Frangó, enquanto bebericávamos caipirinhas. Eu como sempre tomava aquela de saquê e kiwi e você dizia que era impossível ficar bêbado tomando aquilo. E eu me senti ridícula por me sentir levemente alterada depois do segundo copo.

E você cheio de si tomava uma caipirinha de lima da pérsia. Eu tonta tentava espetar com o canudo as frutas no fim da bebida para comê-las enquanto você me explicava a suavidade do sabor da lima da pérsia. Patética eu pensei... Eu aqui tentando comer kiwis enquanto ele magnificamente me falava sobre novos sabores, novos mundos, novas possibilidades.
Devo te confessar que nunca mais voltei no Frangó depois daquele dia. Quer saber, aquilo lá tem sua cara. Sim eu sei esse bar era muito mais meu do que seu afinal eu que sugeri que nosso primeiro encontro fosse lá. E me senti tão bem porque você foi. Você saiu da Liberdade para vir para Freguesia do Ò em plena terça-feira para me ver. Para beber caipirinhas e compartilhar paixões.
Lembra que nos perdemos ao falar do nosso time do coração. Sim! Você me contava de todas as emoções que viveu torcendo para o São Paulo e ali na mesa do bar prometemos ir ao Morumbi juntos.
Eu fui... sem você....mas não para assistir ao nosso tricolor, mas ,para ver um show do Paul McCartney e quando cheguei lá meu coração pensou o quanto seria bom se eu estivesse com você naquele momento. Minha estréia no Morumbi deveria ser com você, conforme prometemos.
Mas a vida não quis assim, na verdade você não quis assim. Você estava saindo de um casamento de oito anos e eu estava ávida para encontrar alguém para chamar de meu. E naquele dia quando você foi me deixar em casa, sentamos no seu carro e observamos a igreja matriz. Ninguém queria ir embora. Ninguém queria dizer algo que pudesse estragar o momento até que eu quebrei o silêncio com um suspiro e com a cabeça inclinada para você eu disse: Caramba estou com a sensação que já te conheço há séculos. E você entusiasmado endossou: Eu também! E rimos e recordamos do sábado anterior quando ficamos umas 5 horas conversando. E falamos de tudo e prometíamos tudo....e não fizemos quase nada.
Um beijo selou nossa noite. Outro beijo nos deu a confirmação de que a noite havia sido perfeita e na porta da minha casa você me abraçou com força e disse que nunca mais ia soltar ....mas soltou…

Hoje eu sei que você sentiria orgulho de mim. Eu consegui me formar! Agora sim sou jornalista diplomada.Lembra que conversamos sobre isso quando o digníssimo Gilmar  Mendes disse que para ser jornalista não era necessário ter diploma e você advogado apaixonado pela profissão me fez ver que o digníssimo senhor citado era na verdade um merda.....

Por falar na sua profissão toda vez que passo na República fico olhando para todos os prédios imaginando onde seria seu escritório...ou pensando que poderia esbarrar com você na hora do almoço e que poderíamos recomeçar do ponto onde paramos.

Mas as coisas não são assim.Eu conheci outra pessoa, na verdade eu conheci vários outros depois de você alguns do tipo idiota, desculpa eu não te ouvi quando você disse para eu evitar esse tipinho calhorda que só servia para me fazer sofrer, mas também conheci muita gente boa mas nenhum deles me fez pensar que tudo seria perfeito como eu pensei que seria com você. Cheguei a pensar que minha mãe acharia você o genro perfeito.


 
Mas perfeição não é mesmo desse mundo....até você me pregou peças e saiu da minha vida como um coadjuvante qualquer...como mais um sonho não vivido.

Eu só queria que você soubesse que eu toquei minha vida e espero viver bem com minhas escolhas como eu espero que você também esteja vivendo bem com as suas escolhas.

Para lembrar sempre de você eu vou ouvir Forever do Kiss e ler Garcia Marquez quem sabe um dia a gente senta no Frangó e retoma aquela louca conversa sobre sonhos, projetos e Garcia Marquez.



Joyce de Almeida

Um comentário: