segunda-feira, 11 de abril de 2011

Jogo das paixões humanas




"Certo dia as paixões humanas resolveram se reunir para brincar. A Curiosidade foi a primeira a querer saber as regras do jogo, o Entusiasmo saltou de alegria e foi para perto da Dúvida e da Apatia tentar convencê-las a brincar. Já o Egoismo disse que não iria brincar e sentou-se em um banco onde só cabia ele e mais ninguém.
Decidiram brincar de esconde esconde, de imediato a Loucura se prontificou a contar.

87,88,89,90,91,92...99,100!

A Loucura saiu em disparada para procurar. Achou um, achou outro, mas ao remexer num arbusto espesso ouviu um gemido: era o Amor, com os olhos furados pelos espinhos. A Loucura o tomou pelo braço e seguiu com ele, espalhando beleza pelo mundo.
Desde então o Amor é cego e a Loucura o acompanha: juntos fazem a vida valer a pena.
Mas isso não é coisa para os queixosos, os pusilânimes e dos demais rigidos, ou aqueles para quem a felicidade é um bem proibido por deuses severos."

Extraido de um trecho de uma crônica de Lya Luft.

Por Milena Evelyn

terça-feira, 29 de março de 2011

Mas que bobagem!



Do lado de cá da ponte as coisas ainda insistem em permanecer do mesmo jeito. E eu me pergunto aí onde você está como andam as coisas?
Pensar em você me traz um conforto e uma dor que não sei explicar. Lembrar das nossas breves palavras e da emoção do último abraço me traz lágrimas aos olhos. Seu casaco marrom e seus olhos fixos nos meus e as promessas de um amanhã feliz.... e eu ainda tão insegura ...tão menina....custando a crer que um dia aquilo tudo poderia ser real.

Já se passaram quase dez anos e eu trago ainda dentro de mim a essência daquela garota sonhadora. Lembra dos meus planos de conhecer Londres e de como tentava convencer a todos que já havia vivido lá em algum tempo, em uma vida passada. E só você me entendia talvez porque você estava comigo em todas essas outras vidas.

Eu ainda continuo ouvindo as músicas do Phil Collins e imaginando como seria criar nossos filhos a base de Genesis, Beatles e Chico Buarque. E como seria prazeroso ver você sentado ao meu lado opinando e corrigindo meus textos e quase brigando comigo por fazer a mocinha sofrer tanto até ser feliz com seu grande amor.

Eu posso imaginar você com aquela camisa cinza surrada e a barba por fazer passando horas na cozinha criando molhos para combinar com aquela massa especial que irá fazer no fim de semana que seus pais virão nos visitar.

E finjo dormir enquanto você vela meu sono e sussurra coisas sobre nós. Eu quase consigo sentir seu cheiro enquanto você beija minha testa e acaricia meus cabelos falando que vai me levar para Paris. E ainda de olhos fechados te digo que não quero ir para Paris e você diz:

- Mas que bobagem, toda mulher sonha conhecer Paris!

E eu te falo que meus sonhos agora incluem a Itália com uma longa temporada na Toscana. E você ri e diz que a lista está aumentando e que desse jeito teremos que dar a volta no mundo para dar conta de todas as viagens que sonhamos.

E eu abro os olhos e te procuro do lado direito da cama e você não está lá. Esse vazio que fica só me faz perceber que a falta que você me faz só tem aumentado nos últimos anos. E ás vezes é tão impossível segurar as lágrimas que as deixo rolar na esperança tola de aliviar isso tudo.

Vejo a lua lá fora e para você já é manhã. O sol reina enquanto você segue apressado por ruas sem fim. Ruas que nunca te trarão pra casa....ruas que não te trarão pra perto de mim.

Eu sigo com meus planos bobos. Eu sigo ouvindo McCarthney contando os dias para ter você aqui como havíamos prometido naquele amanhecer de outubro de 2002.

Joyce de Almeida

sexta-feira, 18 de março de 2011

O Livro...

Depois de algum tempo a gente começa a perceber que a vida muda a todo instante e assim, os acontecimentos se tornam as virgulas do texto de nossas vidas.
Algumas pessoas preferem escrever suas historias com letras maiusculas, outras buscam discrição e optam pela caixa baixa mesmo, mas também existem aquelas que não terminam as frases, outras vivem repetindo palavras e nem mesmo percebem.
O fato é que cada individuo passa boa parte dos seus dias de vida escrevendo a sua historia, mas tem dias que a chamada ausência absurda como já citada anteriormente por minha amiga Joyce, acaba tomando conta de mais de uma folha do nosso livrinho individual.
O meu livro pessoal, tenho que confessar anda um pouco empoeirado, com algumas páginas amareladas, pensei em arrancar alguma delas, mas iria ficar um buraco, o livro ia ficar meio murcho. Desisti.
Nossas ausências não se cansam de aparecer no livro. Mas por mais estranho que pareça (ou não) no meio das minhas páginas em branco cheias de ausência, reencontrei a Mim.
No meio de toda a minha ausência me descobri, forte, decidida, um pouco magoada mas disposta a seguir para a página seguinte.
E nesse momento, virei a folha...

Por Milena Evelyn

quarta-feira, 16 de março de 2011

Essa ausência absurda

Eu sei é tão confuso olhar para minha vida e ver que nada está no lugar que deveria estar. E olho tudo como uma espectadora qualquer, como se a vida que ando vivendo não fosse de fato minha, mas uma versão assustadoramente lenta com personagens incertos que entram e saem sem maiores explicações sem representar um papel importante na minha vida.


Tanta coisa me faz falta. E tantos sentimentos estranhos começam a transbordar e é tão difícil enxergar o que é necessidade e o que é medo do desconhecido.

E planejo viagens para outro continente na tentativa de curar essa ausência de coisas e pessoas.

E traço roteiros imaginários e anseio por momentos mais felizes. E compro sonhos para serem vividos em longo prazo.

Faço brindes a novas amizades, e fotografo paisagens inesquecíveis e anoto tudo como se um dia pudesse esquecer todos os momentos de felicidade transbordante.

E me apego a uma realidade distante para curar essa ausência absurda. Dentro de mim há tanto espaço a ser preenchido. Por onde começar? E se eu começar um dia essa busca terá mesmo um fim, ou haverá sempre espaços e ausências?

Na falta de respostas desafio meu medo e sigo na esperança de buscar em canto novo algo para preencher todo esse espaço invadido por essa ausência absurda

Joyce de Almeida

domingo, 13 de março de 2011

O seu velho par de meias

Devo te confessar que calcei seu velho de par de meias. Sim aqueles que eram novos quando você me emprestou naquela noite fria que fui dormir no seu apartamento e eu não conseguia achar as minhas meias na minha mochila.Embora eu jurasse que havia colocado um par daquelas meias coloridas que tanto adoro e que te faziam rir ao meu ver de pijama cor de cosa e meias de sapinhos ou de personagens da Disney.


Naquele dia eu sai do banho dando pulinhos, pois o chão estava gelado e para variar eu nunca levava meu chinelo quando ia para sua casa. E você riu quando me joguei no sofá com os pés descalços e foi para seu quarto procurando um par de meias para me oferecer:

- Que meias você quer?

- Tanto faz...

- Meias compridas, meias soquetes....

E você nem me esperou responder e logo apareceu com um par de meias bem branquinhos, tão quentinhas...pareciam que eram minhas e não suas porque se encaixaram tão bem nos meus pés.Logo olhei o logotipo da Nike, provavelmente eram originais e não aquelas falsificadas vendidas nos comércios populares. Afinal você sempre foi tão.....tão ...taurino....

Quando nós terminamos, eu nem me lembrava que o bendito par de meias tinha vindo comigo, nada mais correto do que devolver as meias lavadas e limpas como você me havia entregado. E eis que achei ali no fundo da gaveta o seu par de meias e a minha primeira reação foi fazer uma bola de meias para a Lola brincar no quintal, de preferência quando ele estivesse bem sujo. Isso vai soar insano, mas para mim seria uma espécie de vingança ao seu jeito certinho e organizado de ser.

Que tolice eu pensei você nem iria saber que seu par de meias da Nike havia virado um brinquedo para minha cadelinha.Respirei fundo e guardei seu par de meias. E comecei a usá- lo de vez em quando principalmente antes de ir dormir. Ás vezes eu me lembrava de você, só dos bons momentos é claro, e ás vezes não. E quando me curei de todos os sentimentos que tinha/tenho por você eu escondi o par de meias novamente no fundo da gaveta.

E sexta passada , eu havia decido que ia trabalhar de tênis, sim praticamente um ato de rebeldia...ah tenho que te contar eu agora aderi aos saltos altos, não sempre é claro mas tenho usado mais vezes.Viu só eu disse para você gostava deles mas que não tinha o hábito de usá- los, embora você gostasse de dizer para todo mundo que eu odiava saltos altos.. Que culpa eu tenho que toda vez que insistia em usar eu ficava mais alto do que você?

Mas enfim eu tenho inveja é de quem trabalha de tênis isso sim para mim é liberdade. Por isso e decidi que também iria e eis que ao abrir a gaveta seu par de meias praticamente saltou sobre mim. Sim eu continuo com aquela mesma desorganização de sempre, embora eu lute fortemente contra isso....

E olha que engraçado nesse dia eu desastrada derrubei uma xícara de café sobre mim...e o café escorreu e molhou meu tênis branco e logo sua meia branca....eu ria pensando qual seria sua reação ao ver sua meia encharcada de café....seu par de meias tão brancas agora estavam com uma mancha de café...

Eu ria que nem ligava para o tênis sujo, para meu jeans sujo....de certa forma eu me diverti ao ver algo seu tomar outra forma, foi como se o batismo de café tornasse aquele par de meias meu e não mais seu.


Joyce de Almeida

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Sonhos, projetos e Garcia Marquez


Hei, eu queria te contar que voltei a ler Cem Anos de Solidão. Eu sei agora você vai sentir orgulho de mim.

Lembro quando saímos e te contei que não havia terminado de ler o livro porque achei confuso os diversos personagens com nomes parecidos e te confessei que havia abandonado o livro logo após aquela parte em o Buendia pai é amarrado embaixo do cajueiro e a família o deixa lá.....e você riu e achou um absurdo eu ter largado o livro justo nessa parte.

E me confessou que também confundiu os personagens, mas que leu até o fim.
Li ano passado ou retrasado Sobre o Amor e Outros Demônios, você já leu esse? Pensei tanto em você quando li esse livro... Pensei o quanto seria bom discutir com você como o Garcia Marquez consegue criar personagens tão fantásticos.

Mas você não está comigo, como esteve aquele dia no Frangó, enquanto bebericávamos caipirinhas. Eu como sempre tomava aquela de saquê e kiwi e você dizia que era impossível ficar bêbado tomando aquilo. E eu me senti ridícula por me sentir levemente alterada depois do segundo copo.

E você cheio de si tomava uma caipirinha de lima da pérsia. Eu tonta tentava espetar com o canudo as frutas no fim da bebida para comê-las enquanto você me explicava a suavidade do sabor da lima da pérsia. Patética eu pensei... Eu aqui tentando comer kiwis enquanto ele magnificamente me falava sobre novos sabores, novos mundos, novas possibilidades.
Devo te confessar que nunca mais voltei no Frangó depois daquele dia. Quer saber, aquilo lá tem sua cara. Sim eu sei esse bar era muito mais meu do que seu afinal eu que sugeri que nosso primeiro encontro fosse lá. E me senti tão bem porque você foi. Você saiu da Liberdade para vir para Freguesia do Ò em plena terça-feira para me ver. Para beber caipirinhas e compartilhar paixões.
Lembra que nos perdemos ao falar do nosso time do coração. Sim! Você me contava de todas as emoções que viveu torcendo para o São Paulo e ali na mesa do bar prometemos ir ao Morumbi juntos.
Eu fui... sem você....mas não para assistir ao nosso tricolor, mas ,para ver um show do Paul McCartney e quando cheguei lá meu coração pensou o quanto seria bom se eu estivesse com você naquele momento. Minha estréia no Morumbi deveria ser com você, conforme prometemos.
Mas a vida não quis assim, na verdade você não quis assim. Você estava saindo de um casamento de oito anos e eu estava ávida para encontrar alguém para chamar de meu. E naquele dia quando você foi me deixar em casa, sentamos no seu carro e observamos a igreja matriz. Ninguém queria ir embora. Ninguém queria dizer algo que pudesse estragar o momento até que eu quebrei o silêncio com um suspiro e com a cabeça inclinada para você eu disse: Caramba estou com a sensação que já te conheço há séculos. E você entusiasmado endossou: Eu também! E rimos e recordamos do sábado anterior quando ficamos umas 5 horas conversando. E falamos de tudo e prometíamos tudo....e não fizemos quase nada.
Um beijo selou nossa noite. Outro beijo nos deu a confirmação de que a noite havia sido perfeita e na porta da minha casa você me abraçou com força e disse que nunca mais ia soltar ....mas soltou…

Hoje eu sei que você sentiria orgulho de mim. Eu consegui me formar! Agora sim sou jornalista diplomada.Lembra que conversamos sobre isso quando o digníssimo Gilmar  Mendes disse que para ser jornalista não era necessário ter diploma e você advogado apaixonado pela profissão me fez ver que o digníssimo senhor citado era na verdade um merda.....

Por falar na sua profissão toda vez que passo na República fico olhando para todos os prédios imaginando onde seria seu escritório...ou pensando que poderia esbarrar com você na hora do almoço e que poderíamos recomeçar do ponto onde paramos.

Mas as coisas não são assim.Eu conheci outra pessoa, na verdade eu conheci vários outros depois de você alguns do tipo idiota, desculpa eu não te ouvi quando você disse para eu evitar esse tipinho calhorda que só servia para me fazer sofrer, mas também conheci muita gente boa mas nenhum deles me fez pensar que tudo seria perfeito como eu pensei que seria com você. Cheguei a pensar que minha mãe acharia você o genro perfeito.


 
Mas perfeição não é mesmo desse mundo....até você me pregou peças e saiu da minha vida como um coadjuvante qualquer...como mais um sonho não vivido.

Eu só queria que você soubesse que eu toquei minha vida e espero viver bem com minhas escolhas como eu espero que você também esteja vivendo bem com as suas escolhas.

Para lembrar sempre de você eu vou ouvir Forever do Kiss e ler Garcia Marquez quem sabe um dia a gente senta no Frangó e retoma aquela louca conversa sobre sonhos, projetos e Garcia Marquez.



Joyce de Almeida

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Meu pequeno príncipe


Lembro como se fosse hoje, o dia em que sua mãe descobriu que você viria para mudar nossas vidas. Vou te contar um segredo eu sabia bem antes dela que você estava para chegar quando no café da manhã ela decidiu comer uma banana amassada com leite em pó. Era a certeza de que nosso pequeno príncipe poderoso estava a caminho[1]. 
  
Mas para mim o dia mais especial foi quando você teve alta do hospital e olha só sua mãe ao chegar em casa com você no colo,te entregou para mim... E você usava aquele macacão vermelho e amarelo que eu havia lhe dado de presente antes de você nascer. E você parecia tão lindo enrolado no manto que sua avó havia feito... E estava um pouco frio quando eu peguei você no meu colo e senti as lágrimas rolarem no meu rosto assim como cachoeiras.
Eu quis que aquele momento durasse para sempre e coloquei você no colo da sua avó e com meu celular tirei uma foto sua para mostrar para todo mundo que eu era a tia mais babona do universo.


E você me deu tantas alegrias e tantos sustos como aquele que você tinha uns dois ou três meses e se engasgou com o leite deixando a todos nós loucos correndo as pressas para o hospital em plena madrugada.E como eu chorava só de pensar em você tão pequeno sendo internado para drenar o leite que estava nos seus pulmões.Sim as mãe de primeira viagem sofrem isso todos sabem mas e as tias? As tias meus queridos sofrem ainda mais!

E semana passada mais um susto, uma virose, uma desidratação e você no hospital de novo e eu trabalhando o dia todo praticamente grudada ao celular na expectativa de receber uma noticia sua. E desabafo no facebook minha preocupação com seu estado de saúde e chovem mensagens de preocupação com seu estado de saúde. É meu pequeno, você é mesmo um raio de sol e todos que te conhecem ficam derretidos de amor por você!

E quando você voltou para casa trajando bermudinha e camiseta do Mickey Mouse e um chinelinho de dedos,sua imagem me lembrava a de um pequeno surfista.Eu corri para abraçar você que me retribuiu com um beijo melado e uma conversa meio empolgada, metade em português e metade na língua dos bebes.

E hoje vivemos mais um episódio da nossa convivência particular, daquele mundo especial que só uma tia pode viver com seu sobrinho, você dormiu na minha cama e como um bom príncipe tomou conta de praticamente toda cama me obrigando a achar um cantinho qualquer para matar o restinho de sono que ainda me acompanhava  no começo da manhã. E eu observo você dormindo com a boquinha aberta. Seu sono é praticamente igual ao da sua mãe.....

Meu coração se enche de paz , sim você está de volta ...são e salvo para reinar em nossas vidas assim como você é cheio de vida.

[1] Segundo os dicionários de nomes Paulo significa pequeno e Henrique príncipe poderoso e esse é o nome que minha irmã deu para meu sobrinho

Joyce de Almeida