terça-feira, 29 de março de 2011

Mas que bobagem!



Do lado de cá da ponte as coisas ainda insistem em permanecer do mesmo jeito. E eu me pergunto aí onde você está como andam as coisas?
Pensar em você me traz um conforto e uma dor que não sei explicar. Lembrar das nossas breves palavras e da emoção do último abraço me traz lágrimas aos olhos. Seu casaco marrom e seus olhos fixos nos meus e as promessas de um amanhã feliz.... e eu ainda tão insegura ...tão menina....custando a crer que um dia aquilo tudo poderia ser real.

Já se passaram quase dez anos e eu trago ainda dentro de mim a essência daquela garota sonhadora. Lembra dos meus planos de conhecer Londres e de como tentava convencer a todos que já havia vivido lá em algum tempo, em uma vida passada. E só você me entendia talvez porque você estava comigo em todas essas outras vidas.

Eu ainda continuo ouvindo as músicas do Phil Collins e imaginando como seria criar nossos filhos a base de Genesis, Beatles e Chico Buarque. E como seria prazeroso ver você sentado ao meu lado opinando e corrigindo meus textos e quase brigando comigo por fazer a mocinha sofrer tanto até ser feliz com seu grande amor.

Eu posso imaginar você com aquela camisa cinza surrada e a barba por fazer passando horas na cozinha criando molhos para combinar com aquela massa especial que irá fazer no fim de semana que seus pais virão nos visitar.

E finjo dormir enquanto você vela meu sono e sussurra coisas sobre nós. Eu quase consigo sentir seu cheiro enquanto você beija minha testa e acaricia meus cabelos falando que vai me levar para Paris. E ainda de olhos fechados te digo que não quero ir para Paris e você diz:

- Mas que bobagem, toda mulher sonha conhecer Paris!

E eu te falo que meus sonhos agora incluem a Itália com uma longa temporada na Toscana. E você ri e diz que a lista está aumentando e que desse jeito teremos que dar a volta no mundo para dar conta de todas as viagens que sonhamos.

E eu abro os olhos e te procuro do lado direito da cama e você não está lá. Esse vazio que fica só me faz perceber que a falta que você me faz só tem aumentado nos últimos anos. E ás vezes é tão impossível segurar as lágrimas que as deixo rolar na esperança tola de aliviar isso tudo.

Vejo a lua lá fora e para você já é manhã. O sol reina enquanto você segue apressado por ruas sem fim. Ruas que nunca te trarão pra casa....ruas que não te trarão pra perto de mim.

Eu sigo com meus planos bobos. Eu sigo ouvindo McCarthney contando os dias para ter você aqui como havíamos prometido naquele amanhecer de outubro de 2002.

Joyce de Almeida

sexta-feira, 18 de março de 2011

O Livro...

Depois de algum tempo a gente começa a perceber que a vida muda a todo instante e assim, os acontecimentos se tornam as virgulas do texto de nossas vidas.
Algumas pessoas preferem escrever suas historias com letras maiusculas, outras buscam discrição e optam pela caixa baixa mesmo, mas também existem aquelas que não terminam as frases, outras vivem repetindo palavras e nem mesmo percebem.
O fato é que cada individuo passa boa parte dos seus dias de vida escrevendo a sua historia, mas tem dias que a chamada ausência absurda como já citada anteriormente por minha amiga Joyce, acaba tomando conta de mais de uma folha do nosso livrinho individual.
O meu livro pessoal, tenho que confessar anda um pouco empoeirado, com algumas páginas amareladas, pensei em arrancar alguma delas, mas iria ficar um buraco, o livro ia ficar meio murcho. Desisti.
Nossas ausências não se cansam de aparecer no livro. Mas por mais estranho que pareça (ou não) no meio das minhas páginas em branco cheias de ausência, reencontrei a Mim.
No meio de toda a minha ausência me descobri, forte, decidida, um pouco magoada mas disposta a seguir para a página seguinte.
E nesse momento, virei a folha...

Por Milena Evelyn

quarta-feira, 16 de março de 2011

Essa ausência absurda

Eu sei é tão confuso olhar para minha vida e ver que nada está no lugar que deveria estar. E olho tudo como uma espectadora qualquer, como se a vida que ando vivendo não fosse de fato minha, mas uma versão assustadoramente lenta com personagens incertos que entram e saem sem maiores explicações sem representar um papel importante na minha vida.


Tanta coisa me faz falta. E tantos sentimentos estranhos começam a transbordar e é tão difícil enxergar o que é necessidade e o que é medo do desconhecido.

E planejo viagens para outro continente na tentativa de curar essa ausência de coisas e pessoas.

E traço roteiros imaginários e anseio por momentos mais felizes. E compro sonhos para serem vividos em longo prazo.

Faço brindes a novas amizades, e fotografo paisagens inesquecíveis e anoto tudo como se um dia pudesse esquecer todos os momentos de felicidade transbordante.

E me apego a uma realidade distante para curar essa ausência absurda. Dentro de mim há tanto espaço a ser preenchido. Por onde começar? E se eu começar um dia essa busca terá mesmo um fim, ou haverá sempre espaços e ausências?

Na falta de respostas desafio meu medo e sigo na esperança de buscar em canto novo algo para preencher todo esse espaço invadido por essa ausência absurda

Joyce de Almeida

domingo, 13 de março de 2011

O seu velho par de meias

Devo te confessar que calcei seu velho de par de meias. Sim aqueles que eram novos quando você me emprestou naquela noite fria que fui dormir no seu apartamento e eu não conseguia achar as minhas meias na minha mochila.Embora eu jurasse que havia colocado um par daquelas meias coloridas que tanto adoro e que te faziam rir ao meu ver de pijama cor de cosa e meias de sapinhos ou de personagens da Disney.


Naquele dia eu sai do banho dando pulinhos, pois o chão estava gelado e para variar eu nunca levava meu chinelo quando ia para sua casa. E você riu quando me joguei no sofá com os pés descalços e foi para seu quarto procurando um par de meias para me oferecer:

- Que meias você quer?

- Tanto faz...

- Meias compridas, meias soquetes....

E você nem me esperou responder e logo apareceu com um par de meias bem branquinhos, tão quentinhas...pareciam que eram minhas e não suas porque se encaixaram tão bem nos meus pés.Logo olhei o logotipo da Nike, provavelmente eram originais e não aquelas falsificadas vendidas nos comércios populares. Afinal você sempre foi tão.....tão ...taurino....

Quando nós terminamos, eu nem me lembrava que o bendito par de meias tinha vindo comigo, nada mais correto do que devolver as meias lavadas e limpas como você me havia entregado. E eis que achei ali no fundo da gaveta o seu par de meias e a minha primeira reação foi fazer uma bola de meias para a Lola brincar no quintal, de preferência quando ele estivesse bem sujo. Isso vai soar insano, mas para mim seria uma espécie de vingança ao seu jeito certinho e organizado de ser.

Que tolice eu pensei você nem iria saber que seu par de meias da Nike havia virado um brinquedo para minha cadelinha.Respirei fundo e guardei seu par de meias. E comecei a usá- lo de vez em quando principalmente antes de ir dormir. Ás vezes eu me lembrava de você, só dos bons momentos é claro, e ás vezes não. E quando me curei de todos os sentimentos que tinha/tenho por você eu escondi o par de meias novamente no fundo da gaveta.

E sexta passada , eu havia decido que ia trabalhar de tênis, sim praticamente um ato de rebeldia...ah tenho que te contar eu agora aderi aos saltos altos, não sempre é claro mas tenho usado mais vezes.Viu só eu disse para você gostava deles mas que não tinha o hábito de usá- los, embora você gostasse de dizer para todo mundo que eu odiava saltos altos.. Que culpa eu tenho que toda vez que insistia em usar eu ficava mais alto do que você?

Mas enfim eu tenho inveja é de quem trabalha de tênis isso sim para mim é liberdade. Por isso e decidi que também iria e eis que ao abrir a gaveta seu par de meias praticamente saltou sobre mim. Sim eu continuo com aquela mesma desorganização de sempre, embora eu lute fortemente contra isso....

E olha que engraçado nesse dia eu desastrada derrubei uma xícara de café sobre mim...e o café escorreu e molhou meu tênis branco e logo sua meia branca....eu ria pensando qual seria sua reação ao ver sua meia encharcada de café....seu par de meias tão brancas agora estavam com uma mancha de café...

Eu ria que nem ligava para o tênis sujo, para meu jeans sujo....de certa forma eu me diverti ao ver algo seu tomar outra forma, foi como se o batismo de café tornasse aquele par de meias meu e não mais seu.


Joyce de Almeida